sexta-feira, 18 de maio de 2007

O amor na velhice - Cora Coralina

O amor na velhice

( Cora Coralina )


Uso sempre a palavra velho (ou velha)... Não gosto, quem me lê já sabe, de idoso ou terceira idade... Ai, isso até me dói.... rs..., pela tentativa de falsidade que encerra. A palavra velho implica numa carga de sabedoria e experiência que nos dá a vida à medida em que vivemos. E dessa carga também quero falar.

Eu, pessoalmente, recebo uma série de observações que poderiam até parecer desagradáveis e indelicadas. Só que não as sinto assim porque as acolho com serenidade. Por falar eu de amor, e por amar de verdade, muita gente entende que sou atrevida, ridícula, inconseqüente etc. etc.... E, o estranho disso é que não ouço tais críticas de pessoas jovens, mas de pessoas que estão caminhando para o auge da maturidade cronológica e atribuem a mim os fantasmas da própria velhice que se aproxima. Os jovens, em geral, admiram minha coragem de amar e declarar meu amor. Para eles, quase sempre, a idade fica em segundo plano, não influi na relação ou no diálogo. Mais ainda, eles até se declaram egoístas, querendo aprender e sorver a sabedoria do velho com quem se relacionam como amores ou como amigos. Daí eu concluir que aqueles que tentam anular o direito de amar dos velhos, estão apenas refletindo neles seus próprios medos, sua incapacidade de amadurecer o amor na medida em que amadurecem em idade.

É simples encarar a equação. Ninguém, em seu perfeito juízo, negaria ao velho os direitos todos que a vida lhe dá: comer, dormir, divertir-se, trabalhar, enfim, exercer plena e conscientemente a vida que pulsa. Por que negar-lhes o direito ao amor e ao sexo? Se isso fosse normal, certamente esses desejos legítimos e saudáveis se arrefeceriam com o passar do tempo. Se não arrefecem é porque a natureza sábia reconhece sua validade. E, pelo que constatamos, a libido não tem mesmo idade... Ela pede e grita no velho como pedia e gritava no jovem que ele foi. E como aceitar uma restrição que venha de fora? Como ceder à pressão e se enclausurar, renunciar a viver esse lado exultante do eu?

Pensemos um pouco em nossos antepassados: pais, avós, familiares que se entregaram a um marasmo na velhice por não terem força para lutar contra preconceitos terríveis e tão propalados que eles próprios os assumiam. O homem era até mais prejudicado, pois vivia perseguido pela "fatalidade" da impotência "obrigatória" depois de certa idade. E a grande maioria ficava impotente mesmo, pelo poder da sugestão. Os progressos da medicina vieram em seu socorro e hoje o problema, se aparece, é contornável. As mulheres não eram estigmatizadas por essa terrível previsão, mas o eram pelos preconceitos e se fechavam em conchas a partir de certa idade, acreditavam que a menopausa as tornaria menos fêmeas e menos desejáveis. E está fechado o círculo: casais velhos, frustrados e infelizes, apenas sentados indefesos na sala de espera da morte. E assim vimos ou temos notícias de tantos entes queridos que definharam depois de nos darem a vida, a educação, a sua sabedoria, para que seguíssemos felizes os nossos caminhos. E eu pergunto: isso é justo?

Convoco os ainda jovens para que abram suas mentes e preparem seu futuro de velhos. Só assim chegarão à velhice com a dignidade e a sabedoria que torna os velhos realistas, felizes e seguros. Seus preconceitos de hoje, se existem, os tornarão certamente velhos amargos, vítimas de si mesmos, das crenças errôneas que acumularam e deixaram que se cristalizassem.

Convoco os velhos como eu, ou mais velhos que eu, para exercerem seus direitos, esclarecer aos jovens suas posições e mostrar-lhes as verdades que viveram e que os tornaram melhores. Entreguemos o amor ao ser amado, sem vergonha e sem medo, e vivamos esse amor intensa e completamente, na alma e no corpo. Se disserem que idade não é documento..., mostremos que é sim, documento importante porque repleto de experiência e de aprendizagens muitas vezes à custa de sofrimento. Somos todos lindos, independente de aparência física, porque é linda nossa alma e linda a nossa coragem de amar! Portanto, não nos enterremos antes da hora. Vivamos, vivamos! No momento certo, outros nos enterrarão, gratos pelas lições que lhes deixamos.

Cora Coralina

quarta-feira, 2 de maio de 2007

AFINIDADE

AFINIDADE

(Artur da Távola)

Não é o mais brilhante,
mas é o mais sutil,
delicado e penetrante dos sentimentos.
Não importa o tempo, a ausência,
os adiantamentos, a distância, as impossibilidades.

Quando há AFINIDADE,
qualquer reencontro retoma a relação,
o diálogo, a conversa,
o afeto, no exato ponto
de onde foi interrompido.

AFINIDADE é não haver
tempo mediante a vida.
É a vitória do adivinhado sobre o real,
do subjetivo sobre o objetivo,
do permanente sobre o passageiro,
do básico sobre o superficial.

Ter AFINIDADE é muito raro,
mas quando ela existe,
não precisa de códigos
verbais para se manifestar.
Ela existia antes do conhecimento,
irradia durante e permanece depois que as
pessoas deixam de estar juntas.

AFINIDADE é ficar longe,
pensando parecido
a respeito dos mesmos fatos que
impressionam, comovem, sensibilizam.

AFINIDADE é receber o que vem
de dentro com uma aceitação
anterior ao entendimento.

AFINIDADE é sentir com...
Nem sentir contra, sem sentir para...
Sentir com e não ter necessidade de
explicação do que está sentindo.
É olhar e perceber.

AFINIDADE é um sentimento singular,
discreto e independente.
Pode existir a quilômetros de distância,
mas é adivinhado na maneira de falar,
de escrever,
de andar,
de respirar.....

AFINIDADE é retomar a relação
no tempo em que parou.
Porque ele (tempo) e
ela (separação) nunca existiram.
Foi apenas a oportunidade dada (tirada)
pelo tempo para que a maturação
pudesse ocorrer e que cada
pessoa pudesse ser cada vez mais.

Lição de Vida

Lição de Vida
Resposta de uma pergunta que foi feita ao médico psiquiatra Roberto Shinyashiki, numa entrevista concedida por ele à revista "Isto É".O entrevistador Camilo Vannuchi perguntou a ele:- O senhor acha que muitas pessoas têm buscado sonhos que não são seus? Shinyashiki responde:- A sociedade quer definir o que é certo.São quatro as Loucuras da Sociedade.A primeira é:- Instituir que todos têm de ter sucesso, como se ele não tivesse significado individual. A segunda loucura é: -Você tem de estar feliz todos os dias. A terceira é:-Você tem que comprar tudo o que puder. O resultado é esse consumismo absurdo.Por fim, a quarta loucura: -Você tem de fazer as coisas do jeito certo. Jeito certo não existe.Não há um caminho único para se fazer as coisas.As metas são interessantes para o sucesso, mas não para a felicidade.Felicidade não é uma meta, mas um estado de espírito. Tem gente que diz que não será feliz enquanto não casar, enquanto outros se dizem infelizes justamente por causa do casamento.Você pode ser feliz tomando sorvete, ficando em casa com a família ou amigos verdadeiros, levando os filhos para brincar ou indo a praia ou ao cinema.Quando era recém-formado em São Paulo, trabalhei em um hospital de pacientes terminais.Todos os dias morriam nove ou dez pacientes. Eu sempre procurei conversar com eles na hora da morte. A maior parte pega o médico pela camisa e diz:"Doutor, não me deixe morrer. Eu me sacrifiquei a vida inteira, agora eu quero aproveitá-la e ser feliz".Eu sentia uma dor enorme por não poder fazer nada. Ali eu aprendi que a felicidade é feita de coisas pequenas.Ninguém na hora da morte diz se arrepender por não ter aplicado o dinheiro em imóveis ou ações, mas sim de ter esperado muito tempo ou perdido várias oportunidades para aproveitar a vida.

"Ter problemas na vida é inevitável,ser derrotado por eles é opcional".